Homilia para a Festa da Exaltação da Santa Cruz (Ano B)

 

Introdução

Queridos irmãos e irmãs, hoje a Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz, um dia de grande significado para todos nós que seguimos a Jesus Cristo. A cruz, que foi instrumento de tortura e humilhação na época de Cristo, hoje é para nós o maior símbolo de nossa fé, um sinal da vitória de Deus sobre o pecado e a morte. Mas o que significa exaltar a cruz? Por que a cruz, esse objeto tão brutal, é o centro da nossa vida cristã?

Ao olharmos para a cruz hoje, somos chamados a contemplar o maior mistério da nossa fé: o mistério do amor de Deus que se revelou em sua plenitude na cruz. A cruz é um convite para vivermos à luz deste amor, entregando-nos completamente a Deus, assim como Cristo se entregou por nós. Hoje, vamos meditar sobre o significado da cruz em nossas vidas, como ela transforma nossa visão do sofrimento, do sacrifício e, acima de tudo, do amor.

1. O Paradoxo da Cruz

A cruz de Cristo é um paradoxo. O que era para ser um símbolo de derrota, fracasso e condenação, se transformou no maior símbolo de vitória, redenção e esperança. No Evangelho de hoje, Jesus faz referência à serpente de bronze que Moisés levantou no deserto. Assim como a serpente foi erguida para curar o povo de Israel que havia sido picado por serpentes venenosas, Cristo é elevado na cruz para curar a humanidade do veneno do pecado.

João 3,13-17, que acabamos de ouvir, nos lembra de que "Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna." Este amor incondicional é a chave para entendermos a cruz. O Filho de Deus, o próprio Deus encarnado, foi elevado na cruz para nossa salvação. A cruz, portanto, não é apenas um sinal de sofrimento, mas de amor redentor. Jesus, ao morrer nela, nos convida a olharmos para ela com os olhos da fé, reconhecendo nela o caminho para a vida eterna.

Exemplo 1: Pensemos em um pai ou uma mãe que trabalha incansavelmente para sustentar sua família. Eles se sacrificam diariamente, muitas vezes abdicando de seus próprios desejos e necessidades, para o bem de seus filhos. À primeira vista, esse sacrifício pode parecer um fardo pesado, mas quando olhamos mais de perto, percebemos que é movido por amor. A cruz de Cristo é esse sacrifício por amor levado ao extremo: Ele deu sua vida por nós, para que tenhamos vida em abundância.

A cruz nos ensina que o amor verdadeiro exige sacrifício. Não há amor sem entrega, sem renúncia. E essa entrega, embora às vezes dolorosa, é fonte de vida e de alegria. É por isso que exaltamos a cruz, porque ela nos revela o caminho para a verdadeira felicidade, que é viver o amor de Deus em nossas vidas.

2. A Cruz e o Sofrimento Humano

A cruz também nos ensina a lidar com o sofrimento. Em nossa vida cotidiana, enfrentamos muitos tipos de sofrimento: doenças, perdas, frustrações e desafios que parecem insuperáveis. Muitas vezes nos perguntamos: por que Deus permite que soframos? A cruz de Cristo não nos dá uma resposta fácil para essa pergunta, mas nos oferece uma perspectiva diferente sobre o sofrimento.

Quando olhamos para a cruz, vemos que o próprio Deus não ficou alheio ao sofrimento humano. Ele não se distanciou de nossas dores, mas escolheu entrar nelas. Jesus, sendo Deus, experimentou o abandono, a dor física e emocional, a traição e a morte. Ele conhece nossas dores porque Ele as carregou. Isso significa que, quando sofremos, não estamos sozinhos. Cristo está conosco, e Ele nos convida a unir nosso sofrimento ao d’Ele, transformando-o em uma oferta de amor ao Pai.

São Paulo escreve em Filipenses 2,6-11 que Jesus “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens” e “humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”. A obediência de Jesus até o ponto mais extremo — a cruz — é o exemplo de como devemos enfrentar o sofrimento: com fé e obediência ao Pai, sabendo que, assim como a cruz não foi o fim para Cristo, o sofrimento não é o fim para nós.

Exemplo 2: Imagine um atleta que treina arduamente todos os dias, sofrendo dor e exaustão, para alcançar seu objetivo de vitória. O que o motiva a continuar, mesmo diante das dificuldades? A visão do prêmio, a certeza de que o esforço valerá a pena. Da mesma forma, nós, cristãos, somos chamados a suportar as nossas cruzes diárias com paciência e esperança, sabendo que, como diz São Paulo, “os sofrimentos do tempo presente não se comparam com a glória que será revelada em nós” (Rm 8,18).

A cruz, então, nos oferece não uma explicação para o sofrimento, mas uma maneira de enfrentá-lo: com Cristo, o sofrimento se transforma em um caminho de redenção. A cruz não é o fim, mas o começo de uma nova vida. É um convite para vivermos nossa fé de maneira mais profunda, confiando que Deus está conosco em cada momento de dor e dificuldade.

3. A Cruz como Sinal de Esperança e Vitória

Além de nos ensinar sobre o amor e o sofrimento, a cruz é também um sinal de esperança e vitória. Quando Jesus foi elevado na cruz, parecia que o mal havia vencido. Seus inimigos acreditavam que tinham triunfado, que haviam silenciado o Messias. No entanto, como sabemos, a cruz não foi o fim, mas o início de algo novo. Três dias depois, Jesus ressuscitou, vencendo a morte e trazendo consigo a promessa da vida eterna.

A cruz, então, é para nós o símbolo de que o mal, o pecado e a morte não têm a palavra final. Em Cristo, somos vitoriosos. Através de Sua morte, fomos reconciliados com Deus, e através de Sua ressurreição, recebemos a promessa da vida eterna. Cada vez que olhamos para a cruz, devemos lembrar que, embora o caminho possa ser difícil, o fim da história é a vitória de Deus. Cristo nos dá a força para carregar nossas cruzes diárias com esperança, sabendo que Ele já venceu por nós.

Exemplo 3: Pensemos em uma pessoa que passou por grandes dificuldades na vida, talvez uma doença grave ou uma perda significativa. No momento, pode parecer que tudo está perdido, que não há saída. Mas, com o tempo, essa pessoa percebe que, por meio do sofrimento, algo novo nasceu: uma nova compreensão de si mesma, uma nova proximidade com Deus, ou mesmo uma transformação em sua vida. A cruz de Cristo nos ensina que, em meio à escuridão, há sempre uma nova vida esperando para nascer.

Jesus nos chama a tomar nossa cruz e segui-lo (Mt 16,24). Isso não significa que Ele nos pede para buscar o sofrimento, mas que devemos abraçar os desafios e dificuldades da vida com fé, sabendo que Ele caminha conosco. A cruz não é o fim, mas o caminho para a ressurreição.

4. A Exaltação da Cruz na Liturgia

Na liturgia da Igreja, a cruz ocupa um lugar central. Ela não é apenas um símbolo, mas uma realidade viva que nos acompanha em cada celebração. Em cada Eucaristia, celebramos a morte e ressurreição de Cristo, renovando o sacrifício que Ele fez por nós na cruz. O altar é o símbolo do Calvário, onde Jesus ofereceu sua vida por nós, e a presença da cruz nos lembra desse sacrifício redentor.

A Festa da Exaltação da Santa Cruz nos convida a renovar nossa devoção à cruz, não como um objeto de adoração em si, mas como o instrumento pelo qual recebemos a salvação. A cruz é um convite à transformação. Ela nos desafia a abandonar o egoísmo, a abrir mão do orgulho e a nos entregarmos completamente ao amor de Deus e ao serviço dos nossos irmãos e irmãs.

Quando veneramos a cruz, estamos exaltando o amor de Deus. Na liturgia desta festa, o canto de exaltação nos lembra que, pela cruz, somos salvos e que, nela, encontramos nossa verdadeira identidade como filhos e filhas de Deus.

Exemplo 4: Durante a liturgia da Sexta-feira Santa, é comum que os fiéis venerem a cruz, beijando-a ou tocando-a com reverência. Esse gesto simboliza nossa aceitação da cruz em nossas vidas e nosso compromisso de seguir Cristo em seu caminho de amor e sacrifício. Da mesma forma, a Exaltação da Santa Cruz nos lembra de que, ao venerarmos a cruz, estamos aceitando o chamado de Jesus para carregar nossas cruzes e segui-lo, confiando em Sua promessa de vida eterna.

Conclusão

Queridos irmãos e irmãs, a Festa da Exaltação da Santa Cruz nos convida a olhar para a cruz de Cristo não com os olhos do mundo, mas com os olhos da fé. A cruz, que para muitos é um sinal de derrota e vergonha, para nós é o sinal da vitória e da glória. Ela nos ensina que o verdadeiro amor exige sacrifício, que o sofrimento pode ser redentor, e que, em Cristo, somos chamados à vida eterna.

Ao celebrarmos esta festa, renovemos nossa devoção à cruz de Cristo. Que ela seja o nosso guia em todos os momentos da vida, especialmente nos momentos de dificuldade e dor. Que, ao olharmos para a cruz, possamos ver o amor infinito de Deus por nós e, com coragem, carregar nossas cruzes diárias, confiando que, com Cristo, a vitória já foi alcançada.

Pequena Prece:

Senhor Jesus, hoje exaltamos a vossa Santa Cruz, o sinal de nossa salvação e da vossa imensa misericórdia. Que a vossa cruz seja sempre nossa força e nossa esperança. Ajudai-nos a carregar nossas cruzes com paciência e amor, sabendo que em vós encontramos a vitória sobre todo o mal. Amém.